segunda-feira, agosto 28, 2006

Censura Séc.XXI

Não o preocupa saber que Portugal continua com o menor índice de alfabetização da Europa? Com o maior número de casos de abandono escolar? Com o menor número de licenciados por 1000 habitantes .... e os que existem estão desempregados?

Não o preocupa saber que Portugal e os portugueses continuam a não ir ao teatro, a não ler livros, a não acarinhar as suas tendências, a sua cultura e a sua própria história?

Não o preocupa saber que para os nossos jovens não há heróis lusitanos? Que os ídolos das crianças vêm todos de outros países?

E já pensaram porquê?

Talvez porque assim, é fácil conseguir audiências para os tão afamados programas televisivos que nos entram pela casa dentro, através da caixinha do imaginario.

Talvez porque assim, não há massa critica, nem opiniões contra a corrente. Ou apenas porque desta forma, não precisamos de produzir conteúdos... basta importá-los.

Penso que mais baixo é impossível. Mesmo sabendo que a história está cheia de conquistas do impossível. Talvez porque assim, é fácil vender produtos inúteis e sobreavaliados, espalhafatosos e enganadores.

Será o marketing de massas a falar ... e ditar regras. Ou será apenas o fantasma de um salazarismo ainda mais obscuro e desprezível que actua desenfriadamente coberto pela cortina da liberdade conquistada e não imposta pelas armas que ainda hoje marcam os limites da nossa evolução?

... não sei!!

Bruno Lemos

04-02-2003

O Silêncio

E se eu, num texto importantíssimo, num livro reconhecidíssimo, num jornal popularíssimo, simplesmente

(isso, por instantes deixasse de escrever!).

E se durante um filme, daqueles nomeados para um óscar, ou até mesmo numa série dramática e misteriosa, que todos nós gostamos,

(sim, deixasse de falar!)

Ou até mesmo na rádio, onde todos nós esperamos saber o estado do tempo ou as notícias do trânsito caótico de Lisboa,

(nos calássemos!)

O silêncio!! Será assim tão absurdo considerar o silêncio como o pior dos piores terrores do séc. XXI?

Poderá ser uma afirmação difícil de aceitar, mas podemos partilhá-la em pequenas perguntas: Será assim tão dificil estar em silêncio? Trabalhar em silêncio? Estudar em silêncio? Descansar em silêncio? Viajar em silêncio?... fazer qualquer coisa em silêncio?

Alguém, em casa, está em silêncio?

Talvez assim possamos perceber a dôr que é viver em silêncio. Ok, não ouviamos algumas marteladas de hipocrisia ou convicções não fundamentadas... ou pior, não compreendidas. Mas será que poderíamos dispensar do nosso dia a dia a opinião de tantas outras pessoas, que nos merecem toda a atenção?

E o beijo barulhento da mãe... do filho... do amigo... do amor...?

Está combinado, se o “amigo” Bush vier com aquelas tretas do Saddam ou do Bin Laden, como perigos nºs 1do Universo, eu simplesmente lhe faço esta pergunta:

- E o silêncio ?

Bruno Lemos

17-03-2003

CRISE

Cépticismo desenfreado que não deixa olhar em frente. Que tapa o olho direito com a velha peneira e desenvolve o esquerdo de qualquer maneira. Retira forças, clarividência e abafa a experiência.

Ruptura de valores. Ou o aqui vale tudo. As normas desaparecem, os valores esfumam-se, as leis ultrapassam-se e a honra ignora-se. Rompe-se com as certezas e dão-se forças às espertezas.

Iniciativa escondida. Inovação adormecida. Projectos na gaveta. Ideias incobertas. Revê-se o passado e esquece-se o futuro. Nariz empinado e olho no umbigo. Amigos amigos, investimentos à parte. Se não fosse pelo dinheiro até eu criava uma obra de arte.

Sono profundo. Mais vale dormir descansado do que adormecer preocupado. O seguro morreu de velho e os bons velhos tempos podem não voltar.... por isso mais vale esperar. Ter pesadelos, acontece. Sonhos cor de rosa, nem vê-los. Antes que o vallium deixe de dar efeito, mais vale esquecê-los.

Eclipse total. E tudo o vento levou. As gentes já não são gente, as ideias não têm mais força, as lutas perderam significado e as vontades desaperecem. Tudo porque a tal pirâmide do “Tio Maslow” nos obrigou a descer um degrau. E se alguns ditados populares são puras verdades, outros há que nem tudo o dizem. Subir é difícil mas agradável. Descer torna-se penoso, fraco e lastimável.

Bruno Lemos

26-03-2004

Vitória com v pequeno

Futebol! Mais precisamente, o Real Madrid. Ainda mais ao pormenor.....Carlos Queiroz.

Ainda consigo ir mais longe.... como é possível, termos um Português a liderar um clube com um passado brilhante, um presente estrondoso e um futuro fulgurante?

Aquando a Cimeira da Lages, vimos lado a lado o nosso Primeiro com José Maria Asnar, no entanto era impossível esconder a diferença abismal de poderes, visão e perspectivas políticas existentes em ambos.

Quando falamos em economia, a Espanha sobrepõe-se ao nosso Portugalzinho em todas as frentes.

Quando falamos em cultura, os Espanhóis dão-nos um lição com o seu espírito nacionalista a apoiar tudo o que se faz no campo da música, pintura, televisão e muito mais.

E agora em futebol, já não chegava a força e o respeito conquistado pelo Figo, temos a oportunidade de ver um Português a liderar a magistral equipa do Real Madrid.

É uma vitória do futebol, diz o meu amigo leitor. Acho que não!!

É sim uma vitória de um dos poucos homens convictos que apostou na formação e na especialização. Não é com exemplos como o que o Boavista nos deu este ano que Portugal se aproximará dos países mais evoluídos da Europa, mas sim com o Prof. Neca, José Mourinho, Carlos Queiroz e outros tantos que apostaram na sua formação.

Liderar é mais difícil do que ser liderado. Liderar é inacto... mas também se aprende. Liderar é gerir recursos, é ajustar forças, é planear fracassos, é fazer acreditar num objectivo comum.

Bruno Lemos

15-10-2003

Viv'ó os Saldos

O Comércio é realmente uma excepção no mundo do negócio, pois é aqui que se vêm as maiores aberridades empresariais... e de marketing.

Enquanto que as empresas industriais tentam eliminar sazonalidades, tentando trabalhar durante todo o ano com a mesma intensidade, o comércio a retalho esforça-se por inventar picos de vendas, arrastando consigo gap's de facturação que levam centenas de lojas a uma falência precoce.

Existem lojas que já abriram falência, antes mesmo de terem dado início à sua actividade, só que só o vão descobrir daqui a 1 ou 2 anos.

Por força da tradição, o Natal era daquelas épocas que dava para tudo e para todos.

Centenas de empresas viviam à sombra desta época durante todo o ano. Depois tinhamos o Carnaval (para alguns), a Páscoa (para outros), o verão (para a restauração) e meia dúzia de efemérides para atenuar os períodos menos bons.

Por fim, existiam duas épocas de saldos que ajudavam a renovar o stock das próprias lojas, criando uma rotatividade dos produtos necessária à inovação. E ao mesmo tempo, facilitando a entrada de um fluxo financeiro essencial para as empresas comerciais.

Hoje, e tudo a bem dos saldos, compra-se especificamente para esta época, subcontrata-se gente para esta época, vende-se com margens quase ridículas nesta época, “pede-se” às pessoas para esperar por esta época, matam-se todas as outras épocas.

E vivam os saldos.

Bruno Lemos

10-01-2003

Pitadas de uma crise anunciada

“…Deste modo, as perspectivas para 2001 só podem ser apresentadas, de forma séria e ponderada, no início de 2002.”

João César da Neves

O Natal está mau. Está fraco. Está cada vez pior.

E para o ano... deus me livre!!

A inflacção sobe (aliás, está a subir), os ordenados mantêm-se, os impostos aumentam (principalmente aqueles que se reflectem de uma forma cega, nos bolsos do mexilhão), os preços acompanham a maré, o comércio tira férias, as indústrias produzem... para o armazém, paga-se muito tarde (será que se paga?) corta-se no fútil (meia dúzia de empregados) melhora-se a rentabilidade da empresa (carro novo), explora-se o pobre e lava-se o cú ao rico.

O grito agudíza-se, o desespero instala-se e o medo sai à rua.

Não comprem!! É o nosso Primeiro que o diz...

Mas não é verdade que ainda no ano passado, dizía-mos que este ano iría ser terrível? E no ano anterior, conhecem alguém que tenha dito que 2001 iría ser bom?

Certezas não as há, mas tudo se prespectiva para que a crise se mantenha... basta continuarmos a evitar comprar; a ter medo do fantasma da crise; a trabalharmos agarrado ao nosso posto de trabalho de uma forma crónica e doentia; a não nos questionarmos; alimentarmos o nosso pessimismo a olhar para as dificuldades e evitar as oportunidades; a viver à sombra da bananeira... à espera que o vento ajude.

Elas não caem.

Como alguém diría, prognósticos só no fim...

Bruno Lemos

03-12-2002

Charlatão de profissão

Neto e filho de advogados, pai e irmão de advogados, só me restava um futuro... Empregador.... de advogados.

Dou-lhes trabalho, faço-os brilhar nos tribunais muitas vezes enfadonhos e emperrados de 1001 casos chamados “da treta”. Casos esses, quase sempre disputados entre peixe graúdo à procura do poleiro mais alto que nem o galo que me lembra todos os dias, que tenho de me levantar.

Não tenho números (nem sequer os procurei) mas quase que punha a cabeça ... do Durãozão... debaixo de uma lâmina afiada, para defender a minha opinião. Entre casos da treta e pequenos crimes relacionados com a droga, devem ser poucos os que restam nas longas filas da nossa (in)Justiça.

Desde pequeno que ouço e discuto o maior código penal da Europa. Lembro-me de alguns serões a conversar com meu pai, a ouvir a teoria do Ouriço. E mesmo depois de longas horas a tentar contrariá-lo, hoje eu faço-lhe uma vénia... pois passadas algumas décadas, o Ouriço ainda não morreu.

O maior parque de protecção do mesmo está ainda nas infraestruturas da nossa república... fazem-se comissões de inquérito, equipas de acompanhamento, grupos de avaliação, inquéritos disciplinares... tudo para distribuir da melhor forma os espinhos do bicho!

Ao contrário do resto dos portugueses, continuo com uma excelente prespectiva de negócio.

Charlatão de profissão, ainda hoje, ajudo o meu filho e o meu irmão!!

Bruno Lemos
25-11-2002